GENÉTICA CANINA: A ESCOLHA DE UM CÃO
As mal formações de vértebra já foram comprovadas como tendo grande influência da genética: em 2016, um grupo de pesquisadores alemães comprovou que a herdabilidade desta característica é de 58% (veja o artigo número 1 citado abaixo, no final da página). Este valor demostra que embora mal formações de vértebras não sejam totalmente herdáveis, as mesmas possuem sim uma grande influência da genética e, portanto, devem ser controladas com a escolha dos cruzamentos de menor risco.
É sabido que no Brasil o controle não é realizado pela enorme maioria dos criadores. Infelizmente, muitos afirmam que este problema não é genético, e que controlar por RX dos pais não adianta nada para melhorar a coluna dos filhotes. No entanto, além da comprovação da influência genética citada acima, é importante lembrar que em vários países desenvolvidos, muitas associações de raça só permitem que o animal seja reproduzido após passar por RX. Ainda assim, é necessário tomar um grande cuidado com esta informação, para que a mesma não seja mal interpretada, pois:
1 - nenhuma associação indica retirar da criação qualquer cão com hemivértebra (isto seria inviável, e diminuiria demais o número de animais reprodutores)
2 - nenhum pesquisador da área afirma que ao fazer RX existe garantia dos filhotes nascerem com a coluna perfeita (aliás isto seria impossível, pois a característica não é 100% genética, mas sim 58%)
Em teoria, o controle de cruzamentos irá promover uma diminuição gradual do problema ao longo das gerações. Do contrário, a falta de controle com RX dos reprodutores apenas mantém o problema na raça, ou pode mesmo aumentar ainda mais o problema.
Vamos pensar sobre a prática de não avaliar a coluna do animal antes da reprodução?
Mas como saber qual animal deve ser retirado da reprodução?
Esta escolha nunca é simples, afinal um animal não é portador de uma única característica! Um cão excelente para outras características desejadas na criação pode ter vértebras com problemas, e então o criador deve pesar o que é mais importante para seu objetivo de criação.
Além disto, não existe uma regra internacional que demonstre quais são os cães que não devem ser reprodutores. Mas a princípio, deve-se que pensar que:
1) animais com problemas muito sérios de coluna não devem ser reproduzidos nunca
2) dois animais com problemas leves de coluna não devem ser reproduzidos entre si
3) ao reproduzir um animal com problema leve, busque cruzá-lo com outro que tenha menos problemas
Sugere-se que você, como criador, tenha um médico veterinário ortopedista que lhe auxilie nesta decisão sobre o que é um problema muito sério e o que é um problema mais leve, já que ainda não existe um consenso sobre isto. No entanto, algumas associações de raça européias já trabalham estabelecendo estes parâmetros. Abaixo, são demonstradas dois exemplos que classificam o problema em graus. Outros autores também avaliam o formato da vértebra, além do número e localização. O artigo correspondente está citado ao final da página, no número 2. Outros exemplos se encontram nas referencias 3 e 4.
Tabelas adaptadas a partir de dados discutidos por Schlensker e Distl, no artigo "Prevalence, grading and genetics of hemivertebrae in dogs" (2)
Disponívell em : http://www.dkfb.de/doks/zo.pdf
e resumido pelo artigo número 2 citado abaixo
Segundo esta classificação, animais com graus 4 e 5 devem ser excluídos da reprodução.
(sugere-se cautela ao reproduzir animais com grau 3)
Disponívell em :
http://www.frenchbulldogclubnsw.asn.au/health_screening.html
e resumido pelo artigo número 2 citado abaixo
Segundo esta classificação, animais com graus 2 e 3 devem ser excluídos da reprodução.
(sugere-se cautela ao reproduzir animais com grau 1)
Além disso, lembre-se: como a herdabilidade do problema é de 58%, é possível que você reproduza dois animais ótimos (graus 0 ou 1), e os mesmos tenham filhotes com graus 3, 4 ou até mesmo 5. Isto não significa, de maneira alguma, que o problema não tem influência da genética. O motivo provável disto ocorrer é porque os pais dos seus animais normais tinham graus mais severos, e passaram esta genética para os mesmos, que por algum motivo não manifestaram o problema. No entanto, o mesmo voltou a acontecer nos filhotes.
Ou seja: ter informações das gerações anteriores também é importante!
Referências:
1 - Schlensker E, Distl O (2016). Heritability of hemivertebrae in the French bulldog using an animal threshold model. The Veterinary Journal v. 207, p. 188–189. (pdf)
2 - Schlensker E, Distl O. Prevalence, grading and genetics of hemivertebrae in dogs. Disponível em https://www.gesunde-bulldoggen.de/files/8_Prevalence_grading_and_genetics_of_hemivertebrae_in_dogs.pdf
3 - Clube de Criadores de Bulldoge Francês - Austrália: http://www.frenchbulldogclubnsw.asn.au/Health.php
4 - Pets4Homes : https://www.pets4homes.co.uk/pet-advice/breed-club-hemivertebrae-testing.html#